sábado, 4 de abril de 2015

A experiência da direção de arte em Después.

sábado, 4 de abril de 2015
A função direção de arte em criações cênicas como na dança e no teatro é ainda recente, ou pouco explorada, embora seja um termo comum em obras audiovisuais. Para facilitar a compreensão do termo, muitas vezes nos apressamos em dizer que a direção de arte trata-se de "cenário e figurino", mas sua função narrativa transborda estes elementos, para envolver todo o conjunto de elementos visuais na cena, com coerência estética, conceitual e estrutural. É um processo de tradução visual, intimamente ligado ao trabalho do diretor e do interpréte criador.

Painel de referências

Em Después, esta função foi recebida com muita generosidade por parte da equipe criadora. Meu primeiro trabalho de direção de arte havia sido com dança (uma videodança), e mesmo assim, compartilho dos sentimentos do diretor Eduardo Brasil, sobre estarmos atentos ao que a bailarina, Ana Clara, dividia conosco, para assim descobrirmos atalhos, curvas e caminhos de diálogo com o imaginário da pesquisa.

Acompanhei com assombro e deleite o material gerado – em companhia da sensibilidade do criador da trilha sonora, Silas, e da atenta presença de produção de Naiane. A cada encontro, surgiam "novas combinações" – cor e dança, textura e movimento, luz e som. 

Trabalhar com um ponto de partida fotográfico é uma instigante tentativa de tradução de sensações, texturas e dimensões presentes na obra da fotógrafa norte americana. Ao mesmo tempo, também resistir à tentação de imitar ou reproduzir literalmente alguns elementos, do irresistível preto e branco às texturas kitsch presentes no universo visual de Diane. 






Algumas propostas: maquete de cenário e teste de figurino

Chega uma etapa do processo em que as propostas precisam se tornar concretas, alinhadas por um desenho de produção. Guiada por uma relação de proposição x desapego, este processo de vestir a cena foi ao mesmo tempo urgente e paciente. De experimentação dos primeiros materiais aos refinamentos (polir a cena), cada descoberta de material foi dançada e celebrada. Felizmente, me parece que esta etapa parece nunca terá fim, e que a cada apresentação, são descobertas novas relações entre a dança e a direção de arte.

Não há como sair intacto de Después. Saímos, no mínimo, salpicados do canto dos rouxinóis e das cinzas douradas da hora do chá.



Imagens: Anna Kühl

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